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terça-feira, 17 de julho de 2012

Elela


Ele percorre minha cabeça com seus ritmos inconstantes, me faz voar, darçar sobre as nuvens.
Ele só vi passar, milhares de vezes sim, sem notar que no fundo daqueles olhos encontraria a magia perfeita. Neguei por conveniência, a necessidade de olhar para ele, de cheirar-lhe a pele e beijar-lhe os lábios tão irregulares quanto sua mente.
Ele por sua vez, mantinha-se calmo, sereno, porém em constante calor, assim penso eu. Tido por mim não como Apolo, mas como Zeus. Acredito que meus tão inconstantes sentimentos, perderam os rumos, que já não lhe eram muitos. Em seu olhar amedrontado podia ver o desejo que lhe corava a pele.
Ela tão simples e feliz, me dizia que ele sim me faria feliz, mas como acreditar? como acreditar em alguém que só vejo passar?
Correr                                                                                                                                  Falar
            Correr                                                                                                    Falar
                         Correr                                                              Falar
MInha cabeça virou-se enquanto ela dizia: "Vai, diga, veja-o, encontre-o, cuide-se". Mas o porque de tudo aquilo? Seria o amor batendo calmamente? Devagar cercando-me e fazendo-me ceder novamente ao desconhecido?
Ela me ensinou, eu fui, ouvi, senti, não o cheirei, nem tão perto cheguei para beijar-lhe os lábios que também tremiam de sede pelos meus.
Ele se foi, não voltou mas seus olhos petulantes ainda permeiam meus pensamentos, seus sorrisos perdidos no mar me fazem acreditar que em uma bela noite voltará.
Tomei um banho com os planctons.
Aquele que sempre planejei que fosse com ele, mas não foi.

Frances Farmer - God Dies


A Ninguém nunca chegou para mim e disse "Você é uma tola. Não existe tal coisa de Deus. Alguém tem te logrado.".
O Não foi assassinato. Eu penso que Deus apenas morreu de idade. E, quando eu percebi que ele não estava mais lá, não me chocou. Me pareceu natural e certo.
A Talvez seja porque eu nunca fui propriamente impressionada pela religião. Eu ia para a escola dominical e gostava das histórias sobre Cristo e a estrela dele. Eram bonitas. Elas te confortavam e te faziam feliz de pensar sobre. Mas eu não acreditava nelas.
O O professor da escola de domingo falava muito parecido com o professor da escola que nos contava sobre histórias de George Washington. Prazerosas, bonitinhas, A mas não verdade.
A Religião era muito vaga. Deus era diferente. Ele era algo real, algo que eu podia sentir. Mas apenas em algumas ocasiões. Eu costumava me deitar entre mornos, limpos lençóis a noite depois do banho, depois de lavar meu cabelo, esfregar meus dedos e passar fio dental. Daí eu podia deitar quieta e parada na escuridão com meu rosto para a janela, com as arvores dentro, e falar com Deus. "Eu estou limpa, agora. Nunca estive tão limpa. Nunca estarei."
O E, de alguma maneira, era Deus. Eu não tinha certeza que era... Apenas algo confortável e escuro e limpo. Não era religião também. Tinha algo muito físico naquilo.
A Eu não podia ter a mesma sensação durante o dia, com minhas mãos em água suja de louça e com o sol alto mostrando a sujeira dos telhados.
O Depois de um tempo, mesmo a noite, aquela sensação de Deus não durou. Eu comecei a pensar sobre o pastor quando dizia "Deus, o pai, vê até a queda da menor pássaro. Ele olha por todos os seus filhos". Isso me intrigou. Mas eu tinha certeza de uma coisa.
A Se Deus era um pai, com filhos, aquela limpeza que eu sentia não era Deus. Então a noite, quando ia para cama, eu pensava, "Estou limpa. Estou com sono." Então eu adormecia. Não me impediu de aproveitar a limpeza em nada. Eu apenas sabia que deus não estava lá.
O Ela era um homem em um trono no céu, portanto, fácil de esquecer.
A As vezes eu encontrava uma utilidade para ele; especialmente quando eu perdia alguma coisa importante. Depois de revirar a casa, com pânico e afobada pela procura, eu podia parar no meio da sala e fechar os olhos. "Por favor deus, deixe que eu encontre meu chapéu vermelho de bordas azuis. Geralmente funcionava. deus se tornou o super-pai que não podia me bater. Mas se eu quisesse muito algo, ele arranjava. Isso me satisfez até que eu comecei a perceber que se deus amava todas as suas crianças igualmente, por que ele se importava com meu chapéu e deixava outros perderem seus pais e mães O tantas vezes?
O Eu comecei a perceber que ele não tinha muito a ver com chapéus nem com pessoas morrendo nem nada. Essas coisas aconteciam querendo ele ou não, ele ficava no céu fingindo não notar.
A Eu me perguntei um pouco por que Deus era tão inútil. Parecia uma perda de tempo ter ele. Ele se tornou menos e menos, O até ele ser... "nothingness". A Eu me senti bastante orgulhosa em perceber que eu tinha encontrado a verdade por mim mesma, sem ajuda dos outros.
O Era um mistério para mim a razão dos outros não terem descoberto também. Deus foi.
A Nós éramos mais jovens. Nós havíamos podado ele.
O Por que eles não podiam ver?
Para mim, ainda é um mistério.